O ano de 2022 foi, até à vindima um dos anos mais quentes e secos desde que há registos (1931). No entanto, em Novembro, Dezembro e principio de Janeiro de 2023 choveram 569 mm na Régua e 277,4 mm na Quinta do Orgal, no Douro Superior. Estes valores representam o dobro do que choveu durante todo ano de 2022 na Régua e quase o mesmo no Orgal!
Desde Fevereiro até princípio de Agosto de 2023 choveu muito pouco, sendo de destacar 2 momentos: em Abril choveu pouquíssimo face ao normal e as temperaturas foram em média mais de 2 graus acima do normal; em fim de Maio e Junho existiram períodos de chuva intensa, em alguns casos e locais acompanhados de granizo. Estes 2 momentos do ciclo, associados aos níveis de água no solo armazenados no Inverno, permitiram grande expansão vegetativa e o desenvolvimento de cachos médios a grandes. Isto veio compensar o número de cachos por planta ligeiramente inferior à média (ainda reflexo do ano muito seco de 2022).
Finalmente a vindima começou muito precocemente, no princípio de Agosto, tendo sido abundante em todas sub-regiões do Douro.
Na Quinta do Vallado – Régua choveram de Novembro 2022 a fim de Setembro 2023, 776,2mm, o que compara com 755,4mm da média de 30 anos, portanto bastante parecido (+3%). No entanto a repartição pelos meses foi bastante anormal, com grande concentração de chuva no Inverno (569mm) e de Fevereiro a Agosto choveu pouco (143,8mm). No entanto o que choveu neste período de Primavera / Verão foi concentrado (existiram apenas 34 dias com precipitação, num total de 212 dias do período - 16%) e com vários episódios de granizo. Em Setembro choveram 63,4 mm, mas essencialmente a partir do dia 14, e em alguns pontos do Douro, existiu mais uma vez queda de granizo
No Orgal em Foz Coa choveram 565,4mm, comparáveis com 489,4mm da média no período homologo (+16%). Aqui no Inverno também choveu bastante, ainda assim bastante menos do que no Baixo Corgo: 277,4mm. De Fevereiro a Agosto, choveram 156 mm, também concentrados em alguns períodos e com episódios de granizo, que felizmente não provocaram danos, devido à fase do ciclo vegetativo da vinha. A chuva caída em Setembro: 132 mm, bastante anormal face à média (32,2mm), só aconteceu a partir de 15 de Setembro, não tendo provocado danos significativos na qualidade da uva, que já estava praticamente toda colhida.
O Inverno foi bastante ameno, e apesar de Fevereiro ter sido frio. A partir de Março as temperaturas começaram a aumentar, com um pico em Abril. Este mês em Portugal Continental foi o 4º mais quente deste 1931 (mais 3 graus do que a média: 17,2º no Douro Superior) e a temperatura máxima foi a mais alta para Abril desde que há registos. O resto dos meses de Verão foram relativamente normais, tendo existido um pico de calor em Agosto sem impacto na qualidade e quantidade das uvas.
Neste contexto climático, o ciclo da videira foi adiantando, com especial enfase para a parte final que culminou na data de início de vindima mais precoce de sempre – 8 de Agosto na Quinta do Vallado. A vinha sofreu vários acidentes climatéricos provocados pela concentração de chuvas em alguns períodos, inclusive acompanhadas de granizo, (que felizmente pouco ou nada afetaram as nossas parcelas), tendo a partir de Junho existido condições para o aparecimento de míldio e algum black-rot. A partir de Julho as condições do ano favoreceram o aparecimento de uma praga da vinha – cigarrinha verde, com forte impacto no Douro Superior, mas também no Cima Corgo. Na maioria das vinhas da Quinta do Vallado isso não foi um problema, embora nas vinhas do Douro Superior tenha existido um trabalho de contenção bem-sucedido. Finalmente a maturação das uvas completou-se, originando uma excelente produção.
Como já referido a vindima começou a 8/8 na Régua com as parcelas de Moscatel e a 21/8 no Douro Superior com os tintos. Foi uma vindima longa, com o propósito de fazer a colheita sempre no momento certo e refletindo a forma como cada casta e cada local se adaptaram ao ano. A última parcela a ser vindimada foi na Régua, uma Touriga Nacional, a 27 de Setembro.
A quantidade da produção foi excecional, e a qualidade também muito boa. Globalmente, embora o míldio fosse desafiante, não constituiu um problema em termos de produção e também não existiram fenómenos generalizados de escaldão; na fase final da vindima, e após as chuvas, existiu a necessidade de fazer alguma seleção na vinha, porque alguns cachos com a pelicula fragilizada pela chuva, já não apresentavam a qualidade ótima exigida. A cicadela manifestou-se na fase final do ciclo nas vinhas do Douro Superior, não tendo, no entanto, existido impacto na qualidade do vinho.
Em termos de produção existiu um aumento de produção de aproximadamente 52% no Douro Superior, e na Régua (Baixo Corgo) de 43% em relação ao ano passado.
Em 2023 a Quinta do Vallado, adquiriu e arrendou algumas parcelas de vinhas velhas (aproximadamente 15 ha), e também nestas produções foram boas e a qualidade ótima!
VINHOS
Os vinhos brancos são excelentes, com muita fruta e acidez elevada. Os tintos (colhidos antes das chuvas intensas de 15/9) são também excelentes, com boa concentração, cor e acidez; são vinhos muito equilibrados e elegantes.
Os Vinhos do Porto apresentam boa cor, muita fruta e boa acidez, e, portanto, as expectativas são também muito boas!